O trabalho acabado de Odiléa sempre surpreendeu

O trabalho acabado de Odiléa sempre surpreendeu. Ao analisar o conjunto de sua produção – em especial a obra gráfica – todos poderão atestar sua capacidade de criação.

Mas o processo de criação, a feitura propriamente dita também surpreende.

Nos esboços e estudos já havia a diversificação de técnicas incomum: ao usar o grafite e o lápis nº 4B, sobre papel vegetal tinha perícia. Também se comportava com maestria na escolha das cores com o crayon e lápis de cera sobre o verso de simples folhas de provas de texto.

Mas na finalização é que se podia observar o melhor da técnica do bico de pena. Se no uso da pena “mosquito” era exímia para as paralelas, espirais e círculos concêntricos milimétricos, no traço cheio usando a pena grossa mostrava liberdade e firmeza.

Mais adiante, o uso de “ferramentas” próprias também era sua marca: carimbos esculpidos em rolhas de cortiça, “trouxinhas” de sua feitura - estas últimas com escolha precisa de tecidos que pudessem imprimir texturas inusitadas. O pincel também era instrumento constante.

É evidente que também se saia bem no recorte de cores de letraset: simples giletes e estiletes proporcionavam cortes graciosos e precisos, quando não, duros e dramáticos. Tudo isto numa época em que o computador ainda não facilitava, como hoje, a vida dos artistas para uns, designers gráficos para outros.

Nos desenhos de arquitetura, pouco conhecidos, também agia com perícia: régua T, esquadros, compassos e normógrafos (o que seriam estes instrumentos?) sobre a prancheta, eram de seu fácil domínio.

Neste campo improvisava na criação e execução das inesquecíveis folhas de perspectiva, em inúmeros projetos do escritório João Walter Toscano: produzia, por exemplo, diminutos carimbos com imagens de folhas de árvores que gravava sobre um tronco ou caídas no solo. Uma peneira fina e uma escova viabilizava um plano com névoa ou sombreado.

Mas não se encerrava aí. Manejava pincéis de diversos tamanhos e usos: com a nanquim na obra gráfica bem como na tinta a óleo em inúmeros painéis que realizou, ou na tinta para queima na série de utensílios esmaltados como travessas, pratos, bules, canecas, bandejas – em manobras de difícil execução.

Era assim Odiléa.